Cenário Econômico: 2020

Cenário Econômico: 2020

Uma breve retrospectiva

A economia brasileira chegou ao final de 2019 com sinais sólidos de retomada do crescimento. Ao longo do ano, ocorreram diversos choques – evento Brumadinho; crise na Argentina, desaceleração global – que impediram um processo mais firme de recuperação. Fatores pontuais impulsionaram o crescimento no 2º semestre, com destaque para a liberação dos saques do FGTS/PIS, que estimularam as vendas, que ao lado de melhoria das condições financeiras, favorecendo a expansão do crédito, incrementaram os gastos de consumo das famílias. Os investimentos também ganharam força no período. Foram beneficiados pela elevação da confiança dos empresários, que se seguiu a aprovação da reforma da Previdência e ao anúncio de uma agenda de medidas (reforma tributária, pacto federativo, reforma administrativa) focadas no endereçamento correta do quadro fiscal brasileiro. O desempenho econômico não foi uniforme ao longo do ano. A economia que iniciou 2019 em ritmo lento, recuando 0,01% na margem no 1º trimestre, deve encerrar ao ano com crescimento anualizado de 3,1%, segundo nossas projeções. Na média do ano, o PIB deve mostrar crescimento de 1,2%.

 

O que vem em 2020?

Pelo lado do consumo, joga a favor o aumento do emprego, com fortalecimento crescente do mercado formal de trabalho, favorecendo a ampliação da massa real de salários da economia. A expansão do crédito deve ser outra força a puxar o consumo. O custo dos empréstimos deve recuar, acompanhando as baixas taxas de inflação, Selic em patamar reduzido e pelas regulamentações do BC, visando diminuir custos e ampliar a competitividade bancária. Os investimentos já se beneficiam da expansão da construção civil puxada pela demanda de pessoa física, atraída pela redução dos custos de financiamento decorrentes da queda dos juros. Mas, serão as inversões em infraestrutura com as privatizações e concessões que deverão impulsionar o avanço dos investimentos. O setor produtivo privado ainda lida com elevada ociosidade, limitando os gastos empresariais.

O crescimento em 2020 também não contará com contribuição positiva do setor externo. A expansão das exportações encontra limitações diante do desaquecimento de nossos principais mercados (China, União Europeia, Argentina), além da queda nos preços internacionais das commodities. As importações, por sua vez, devem mostrar melhor performance em linha com o crescimento mais robusto da demanda doméstica.

 

Expectativa para o PIB e Inflação

A nossa projeção para o PIB em 2020 é 2,70% comandado pelo setor privado (consumo e investimentos), num padrão de crescimento mais saudável e sustentável ao longo prazo se comparado a ciclos anteriores puxados pelo crédito oficial e investimentos públicos.

O ano de 2019 deixa também heranças positivas que devem contribuir para um ambiente favorável à retomada do crescimento. A inflação em 2020 (3,8%) deve ser menor que a de 2019 (4,2%), uma vez que essa última foi afetada por diversos choques de preços (carnes, combustíveis, loterias) no final do ano, cujos efeitos devem arrefecer ao longo de 2020. O ambiente inflacionário favorável que prevaleceu ao longo do ano, logrou manter as expectativas inflacionárias bem ancoradas mesmo para horizontes mais longos como 2023, quando a meta poderá ser reduzida para 3,50%.

 

Selic estável em 2020

Em que pese esse quadro inflacionário favorável, o Banco Central deve enfrentar um cenário desafiador em 2020. Enquanto a inflação se mantém rodando abaixo da meta de 2020, a aceleração do crescimento deve colocar algumas dúvidas sobre o ritmo do fechamento do hiato do produto.

O nível da taxa Selic, no seu mínimo histórico, em conjunto com a maior potência que a política monetária adquiriu nos últimos anos, devido à maior participação do crédito privado e maior resposta que esse crédito tem em relação a movimentos da taxa básica de juros, deve fazer com que o Banco Central tenha mais cautela para dar estímulos adicionais. Assim, a nossa projeção da Selic para o final do ano da é de 4,50%, mesmo patamar no qual ela termina 2019.

Os riscos a esse cenário não são desprezíveis. O mais relevante origina-se no ambiente externo, com uma eventual frustração de um entendimento entre EUA e China que encerre a guerra comercial. Neste caso, os temores de uma recessão mundial acirrariam a aversão ao risco, impactando negativamente as economias emergentes. No âmbito doméstico, não se pode descartar a ocorrência de conflitos políticos colocando em risco a agenda de reformas necessárias para gerar um ambiente fiscal que leve a redução do endividamento público, condição necessária para o crescimento econômico sustentável ao longo prazo.

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