PIB – 3º Trimestre/2012
PIB – 3º tri de 2012
30/11/12
O produto interno bruto (PIB) do 3º trimestre de 2012 no Brasil surpreendeu os analistas de mercado, com crescimento de apenas 0,6% T/T na série dessazonalizada, sendo que era esperado um crescimento bem maior (a mediana das expectativas coletada pela Bloomberg apontava para 1,2% T/T e a projeção da SulAmérica Investimentos era de 1,4% T/T). Além do crescimento bem abaixo do esperado, houve uma revisão para baixo nos dados anteriores, com o crescimento do 2º trimestre sendo rebaixado de 0,4% T/T para 0,2% T/T. Dessa forma, pode-se dizer que houve uma recuperação no 3º trimestre em relação ao trimestre anterior, porém que ela frustrou as expectativas, ficando bem aquém do esperado e implicando em um rebaixamento das projeções de crescimento para 2012 e 2013.

Do lado da oferta, a grande surpresa foi o comportamento do PIB do setor de serviços: ele mostrou estagnação no 3º trimestre (0,0% T/T). Desde o 3º trimestre do ano passado não havia um resultado tão ruim para o PIB de serviços, sendo que naquela época a estagnação era creditada à crise internacional (dos EUA e da Zona do Euro) que estava afetando a economia brasileira. Dessa vez, o resultado pífio do PIB de serviços veio como uma surpresa, pois houve melhora em comércio e transporte, que foi captada pelos indicadores antecedentes e coincidentes que são usados para estimar o PIB. A desaceleração veio basicamente de todos os outros setores, para os quais não há tantos indicadores, com destaque para os resultados de instituições financeiras (-1,3% T/T), e é um tanto surpreendente, dada a forte pressão de custos que é vista nos serviços nos índices de preços (IPCA de serviços com variação acima de 7,5%).
O PIB industrial mostrou crescimento maior no 3º trimestre (1,1% T/T contra -1,8% T/T no trimestre anterior), como era esperado, devido à recuperação na indústria de transformação, com os incentivos fiscais dados para setores como automóveis e eletrodomésticos de linha branca. O PIB da agropecuária também veio basicamente em linha com o esperado, com um crescimento menor do que o visto no trimestre anterior, porém ainda forte (2,5% T/T contra 6,8% T/T).

Do lado da demanda, houve crescimento menor que o esperado no consumo das famílias, que se expandiu apenas 1,0% T/T contra a expectativa de 2,0% T/T da SulAmérica Investimentos. A variação de estoques também contribuiu para o PIB menor, com contribuição fortemente negativa no 3º trimestre (-0,7 pp do PIB T/T). Para a formação bruta de capital fixo (investimento) já era esperada uma queda no 3º trimestre, que ficou em linha com a projetada (-2,0% T/T). O setor externo contribuiu de forma positiva para o PIB do 3º trimestre (1,1 pp do PIB T/T), diferentemente do que estava ocorrendo nos últimos trimestres (quando normalmente a contribuição era de -0,2 pp).

A demanda doméstica brasileira, que foi um dos pilares do crescimento econômico nos últimos anos do governo Lula, está tendo crescimento muito mais fraco no governo Dilma. Em 2011 esse crescimento menor se deveu ao ajuste fiscal e monetário, que reduziu o crescimento do consumo do governo e do investimento. Em 2012, somado a esses dois fatores, também ocorreu menor crescimento do investimento privado, reagindo (com defasagem) ao aperto monetário, à menor perspectiva de crescimento da economia e à perda de competitividade da indústria nacional. O consumo das famílias também vem tendo crescimento menor, afetado pelas condições financeiras das famílias, que não estava bem, com o comprometimento de renda com pagamento de dívidas bastante elevado. A queda nos termos de troca brasileiros (que já recuaram 8,0% desde a metade de 2011) também ajuda a explicar o desempenho pior da demanda doméstica brasileira, pois implica numa queda da renda da economia. A reação da demanda doméstica aos estímulos concedidos pelo governo até agora (queda nos juros, incentivos fiscais) ficou bem aquém da esperada pela SulAmérica Investimentos, pelo menos no resultado do PIB. Houve alta nos dados de vendas e produção de carros e na produção industrial, porém no PIB a reação do consumo ficou bem menor que a esperada.

A taxa de investimento sobre PIB no Brasil, com as seguidas quedas na formação bruta de capital fixo, também tem caído ao longo dos últimos trimestres. Na média de 4 trimestres a taxa de investimento está em 18,5%, o nível mais baixo desde 2009. Para que ocorra um maior crescimento da economia brasileira sem a geração de pressões inflacionárias é necessário que essa taxa de investimento (que é uma das mais baixas dentre os países emergentes) aumente consideravelmente.

Em relação ao hiato do produto, o resultado fraco do 3º trimestre e a revisão para baixo dos trimestres anteriores significa que a diferença entre produto efetivo e potencial ficou ainda maior e mais negativa. No 3º trimestre o produto está mais de 1,5% abaixo do seu potencial, mesmo considerando-se a redução no ritmo de crescimento potencial (que passou de mais de 4,0% A/A alguns anos atrás para pouco mais de 3,0% A/A no período mais recente nos cálculos da SulAmérica Investimentos).

A expectativa que a SulAmérica Investimentos tinha que a demanda doméstica iria crescer de forma mais robusta no 2º semestre de 2012 foi frustrada, porque a aceleração da taxa de crescimento do consumo das famílias ficou bem abaixo da esperada e o resultado do PIB, de forma geral, também. O menor crescimento no 2º e 3º trimestre de 2012 implicam em um carry-over (carregamento estatístico) menor para os anos fechados de 2012 e 2013. O PIB de 2012 nas projeções da SulAmérica Investimentos deve ficar no máximo em 1,2%, contra a expectativa de 1,4% que existia antes. Para o ano de 2013, a projeção de 3,3% do PIB que existia antes deve ser revista para baixo.
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