A inflação medida pelo IPCA no mês de dezembro novamente surpreendeu para cima, ficando em 0,79% M/M, contra mediana de expectativas do mercado de 0,74% e projeção da SulAmérica Investimentos de 0,70%.

A inflação medida pelo IPCA no mês de dezembro novamente surpreendeu para cima, ficando em 0,79% M/M, contra mediana de expectativas do mercado de 0,74% e projeção da SulAmérica Investimentos de 0,70%.

IPCA – dezembro

A inflação medida pelo IPCA no mês de dezembro novamente surpreendeu para cima, ficando em 0,79% M/M, contra mediana de expectativas do mercado de 0,74% e projeção da SulAmérica Investimentos de 0,70%. A inflação do mês de dezembro foi a mais alta no ano de 2012, mostrando pressão quase generalizada sobre os preços no final do ano. Com isso, a variação acumulada em 12 meses do IPCA subiu, passando de 5,53% em novembro para terminar o ano com variação de 5,84%, mais baixa que a do final de 2011 (6,50%), porém quase igual à de 2010 (5,91%).

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No ano de 2012, o grupo Alimentação e Bebidas teve variação de 9,86%, mais elevada que a vista no ano anterior, de 7,19%. Tanto em 2011 quanto em 2012 houve choques nos preços de alimentos que levaram esse índice a subir até 10,40% (em ago/11 e out/12). No caso de 2012, no entanto, o choque foi tanto externo (seca nos EUA) quanto interno (chuvas fora de época no Brasil), enquanto em 2011 o choque havia sido apenas externo. Os preços dos alimentos não comercializáveis tiveram variação muito forte em dezembro (2,08% M/M, contra -1,63% no mês anterior), compensando a menor variação de alimentos comercializáveis (0,98% contra 1,00%) e de alimentação fora do domicílio (0,77% contra 1,31%). A inflação de alimentos nos próximos meses pode ainda ficar elevada, devido à sazonalidade das chuvas de verão, porém ela deve ficar mais fraca em 2013, na ausência de choques de oferta. É esperado, em especial, que a inflação de alimentos em 12 meses recue no segundo semestre deste ano. Desta forma, na ausência de choques de oferta, espera-se que a variação do IPCA, em 12 meses, diminua dos 6,5% que devem ser alcançados em junho para os 5,6% que são projetados para dezembro.

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A maior contribuição para a alta do IPCA entre novembro e dezembro veio do grupo Despesas Pessoais, que segue acelerando (de 0,10% em outubro para 0,53% em novembro e 0,75% em dezembro). Parte da alta de Despesas Pessoais deve-se ao aumento nos preços de cigarros, ocasionado pelo aumento da taxação sobre esses produtos. Entretanto, houve também aceleração nos preços de itens ligados a serviços, com os Serviços Pessoais acelerando de 0,02% para 0,30% e 0,79% entre outubro, novembro e dezembro, respectivamente. A inflação de serviços segue bastante pressionada, terminando o ano com variação em 12 meses acima de 8,7% no caso do índice calculado pelo Banco Central (era 9,0% em dez/11) e acima de 8,0% caso a inflação de alimentos fora do domicílio seja desconsiderada. Parte dessa pressão elevada sobre os preços de serviços deve-se ao aumento do salário mínimo em 2012, de 14%, que foi sentido nos preços de empregados domésticos, manicure e outros serviços pessoais. O reajuste menor do salário mínimo em 2013 (9%) a princípio favoreceria uma menor pressão da inflação de serviços. No entanto, boa parte da pressão sobre os preços de serviços vem também da baixa taxa de desemprego (4,7% em Nov/12), que deve permanecer em 2013, caso a economia volte a crescer de forma mais rápida (como é a expectativa da SulAmérica Investimentos). Dessa forma, a inflação de serviços deve seguir elevada em 2013, não ajudando o IPCA a diminuir ou convergir para a meta.

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A inflação dos bens industriais ajudou o IPCA a ficar mais baixo em 2012 do que em 2011, ao diminuir de 3,59% para 1,33%. Parte desse recuo deve-se ao desempenho ruim da produção industrial desde o final de 2011 (ela deve recuar 2,5% em 2012 em comparação com 2011) e parte deve-se às isenções de impostos concedidas pelo governo federal, em especial a partir da metade do ano, para bens duráveis. A "ajuda" que as isenções deram para a inflação de bens industriais parece estar perdendo fôlego nos últimos meses. A inflação de bens industriais tem subido consideravelmente no período mais recente, sentindo o efeito da desvalorização cambial. Em 2013, com a expectativa de retirada das isenções de impostos de determinados produtos, a evolução desses preços pode não ser tão benéfica para a inflação. No entanto, ainda há espaço para o governo federal intervir na inflação através desses preços, com isenções de outros impostos (PIS-Cofins).

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A inflação de bens e serviços administrados foi menos pressionada em dezembro (0,33%) do que em novembro (0,54%) basicamente devido à ausência de aumento nos preços dos combustíveis. Em 12 meses, os preços administrados tiveram inflação de 3,67% em 2012, contra 6,20% em 2011, sendo um dos principais fatores por detrás da inflação geral mais baixa em 2012. Parte dessa inflação mais baixa foi baseada no ciclo eleitoral, pois reajustes de tarifas de transporte urbano foram deixados para 2013, e eles devem pressionar a inflação de administrados para cima já no começo do ano. Basicamente a principal razão para esperar uma inflação de administrados bem comportada (próxima ou abaixo da meta) em 2013 são as tarifas de energia elétrica, que devem ter redução de 16,2% em fevereiro, diminuindo o IPCA como um todo em 0,55 pp. Entretanto, a alta inflação do IGP-M, a depreciação cambial e o aumento do preço da energia usada pelas distribuidoras devido aos baixos reservatórios pode anular em parte essa queda no preço de fevereiro. Dessa forma, até a grande redução dos preços administrados pode ser posta em cheque em 2013, em especial caso se considere que pode ocorrer um reajuste de preço de gasolina para cima ao longo do ano.

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O índice de difusão (uma medida de quantos subitens subiram dentro do IPCA) subiu consideravelmente em dezembro, alcançando 70,7%, o maior patamar desde abril de 2008.

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Os núcleos (uma forma de tentar medir a tendência da inflação) do IPCA permaneceram com variação elevada em dezembro, sendo que a média dos 3 núcleos dessazonalizados ficou mais elevada em dezembro (0,66% M/M) do que em novembro (0,58% M/M). A média trimestral anualizada dos núcleos ficou bem baixa no 1º e no 2º trimestre desse ano (em torno de 4,7% no dado ajustado sazonalmente), porém voltou a subir no terceiro trimestre, ficando em 7,0%, com o efeito dos preços de alimentos se fazendo sentir. Houve algum recuo no 4º trimestre (para 6,7%), porém ele foi bem pequeno. Deve-se enfatizar que os núcleos de inflação estão mostrando uma taxa anualizada de inflação acima do teto da meta (6,5%).

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A inflação de dezembro veio acima das expectativas, configurando mais um mês de surpresa para cima no IPCA. A inflação deve seguir pressionada no começo deste ano (com a possível exceção de fevereiro, quando ocorrerão reajustes extraordinários para baixo nas tarifas de energia elétrica), podendo reduzir-se na segunda metade de 2013 caso o cenário de produção de alimentos seja mais benigno. Os riscos para a inflação são em sua maioria para cima, levando-a a se aproximar do teto da meta no final deste ano. Dificilmente o IPCA terminará o ano de 2013 acima do teto oficial da meta (6,5%). No entanto, caso seja sentido o perigo de isso ocorrer, o governo pode anunciar novas medidas de isenção de impostos (há mais de R$ 10 bi reservados para isso no orçamento federal), que tem efeitos pontuais de reduzir os preços.

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