Cenário Econômico 2022: conheça a visão da SulAmérica Investimentos

Cenário Econômico 2022: conheça a visão da SulAmérica Investimentos

A economia global aos poucos vai retornando para o ambiente pré-pandemia, muito embora persistam incertezas decorrentes do surgimento de novas variantes do coronavírus, como a ameaça da cepa ômicron, no momento. A atividade econômica global em 2022 vai continuar mostrando recuperação robusta por conta ainda dos efeitos dos estímulos monetários e fiscais adotados em 2021. A reabertura da economia propiciada pela vacinação maciça da população já reflete na normalização do setor de serviços em várias regiões. O consumo, por sua vez, avança, dando sustentação ao crescimento, graças à renda familiar fortalecida pela poupança acumulada durante a pandemia e pela recuperação dos ganhos salariais com fortalecimento do mercado de trabalho, principalmente nas economias avançadas.

As incertezas que ainda cercam a variante ômicron do coronavírus, quanto à sua letalidade e à eficácia das vacinas conhecidas, agregam sérias dificuldades para se tentar delinear um cenário para 2022. As consequências dos efeitos da nova cepa sobre a economia do mundo ainda não são claras. Muitos países adotaram fortes medidas de restrições á mobilidade social, com alguns países recorrendo ao lockdown, que pode trazer impactos significativos sobre a produção, emprego e inflação.

Além de se descortinar um horizonte nebuloso por conta da nova ameaça pandêmica, o ano de 2022 terá muitos desafios à frente herdados do ano anterior. As pressões inflacionárias estão no topo da lista de problemas. A persistência de gargalos nas cadeias produtivas e o prolongamento dos efeitos da reabertura das economias na esteira da vacinação da população devem contribuir para que a inflação siga elevada ao longo do ano.

Diante da perspectiva de pressões inflacionárias mais persistentes do que se antecipava, muitos banco centrais dos países desenvolvidos e também dos emergentes começaram a subir os juros, quando não, indicaram que estão prestes a iniciar a normalização da política monetária nos próximos meses. Isso deve resultar em aperto das condições financeiras globais, que, por ora, seguem muito expansionistas.

Em nosso cenário base, em 2022, a pandemia deve permanecer sob controle nas principais economias. O surgimento de novas variantes do coronavírus deve obrigar os governos a reforçarem seus programas de vacinação, buscando diminuir a necessidade de imposição de medidas restritivas á atividade econômicos. Nesse cenário a economia global cresceria 4,0% em 2022, desacelerando em relação a 2021 ( PIB mundial 5,9%), mas ainda assim acima do patamar médio histórico (3,2%).

As pressões inflacionárias permanecerão no radar dos principais bancos centrais, mas se espera pela dissipação ao longo do ano dos choques relacionados à pandemia, com a normalização das cadeias produtivas e redução da escassez de energia. As cotações das commodities devem devolver parte dos aumentos de 2021, diante de um cenário de menor crescimento esperado para a economia da China. Para as economias emergentes, 2022 será um ano desafiador. O crescimento prejudicado pelas alterações das condições financeiras globais terá pela frente também espaço limitado na área fiscal. A inflação continuará pressionada pelos custos da energia, alimentos e desvalorização cambiais.

A economia brasileira ingressa em 2022 trazendo uma pesada herança de 2021. Riscos de recessão, inflação elevada, juros reais restritivos, baixo nível de confiança dos agentes, tudo isso em meio a fortes incertezas típicas de um ano eleitoral, o que impõe sérios desafios na alocação de recursos por parte dos investidores.

A atividade econômica perdeu fôlego no 2º semestre de 2021. Sucessivas quedas na produção industrial e nas vendas do comércio reforçam a percepção de que a retração toma conta do setor de bens. Quanto aos serviços, os estímulos provenientes da reabertura da economia na esteira do avanço da vacinação perde força. O PIB em 2021 deve mostrar expansão de 4,3%. No entanto, o fraco desempenho esperado para os últimos três meses do ano implica em um carrego estatístico negativo para 2022, cujo crescimento é estimado em -0,2%.

Finda a recuperação cíclica que impulsionou a economia em 2021, o menor desempenho esperado em 2022 refletirá os efeitos de três canais. Primeiro, o forte aperto monetário, com o Banco Central colocando a Selic em 12% ao ano, de acordo com nosso cenário, empurrando a taxa de juros reais ex-ante para o território contracionista. O setor externo já não será tão favorável como foi em 2021, refletindo a desaceleração da China, recuo dos preços das commodities, tornando os termos de trocas menos vantajosos quanto no ano anterior. Ademais, o consumo continuará deprimido por conta do elevado nível da inflação, alto endividamento familiar (limitando o canal do crédito) e elevado desemprego.

Outro grande desafio da política econômica é trazer uma inflação em torno de 10% do final de 2021 para algo o mais próximo o possível do centro da meta de 2022 (3,5%). O processo de desinflação implicará em praticar taxa de juro real altamente restritiva para segurar a demanda, comprometendo o crescimento em 2022. A inflação de 2021 foi afetada duramente pelos choques de oferta que resultaram em pressão nos preços administrados (gasolina; etanol, gás de botijão, energia elétrica) e nos preços industriais, resultante da escassez de insumos e depreciação cambial. Em 2022, vislumbra-se um cenário mais positivo, mas com elevado custo em termos de atividade. A pressão inercial de 2021deve ser contrabalançada pela acomodação da demanda doméstica, diante de juros reais elevados e menor crescimento. A crise hídrica pode dar uma trégua, permitindo reduzir os efeitos do choque da energia sobre os preços. Uma safra de grãos recorde e cotações das commodities menos pressionadas internacionalmente devem assegurar um desempenho mais moderado para os preços dos alimentos. Nossa projeção para o IPCA em 2022 encontra-se em 4,84%.

A inflação se mostrou muito persistente ao longo de 2021, com surpresas altistas na maior parte dos meses. Em consequência, aos poucos as expectativas inflacionárias foram sendo revistas para cima, não apenas de 2021, mas também de 2022 e mais recentemente, contaminando também as projeções para 2023. Diante desse quadro, a reação do Banco Central foi tempestiva. Promoveu sucessivas altas da Selic, com claro objetivo de levar a Selic para um patamar suficientemente contracionista para ancorar as expectativas de inflação no horizonte relevante para a política monetária. A Selic se encontrava em 2,0% ao ano em fevereiro, terminou o corrente ano em 9,25%. Novas altas devem ocorrer, encerrando o ciclo em 12,0%, segundo nossas projeções.

Parte significativa do processo de desancoragem das expectativas resultou de medidas que colocaram em xeque a trajetória prospectiva da política fiscal. A flexibilização do teto dos gastos e a postergação do pagamento de partes dos precatórios que vencem em 2022, ambos no âmbito da PEC 95, objetivando obter recursos para o financiamento do novo programa social, o Auxílio Brasil, fragilizou o arcabouço fiscal. A percepção de regras fiscais violadas resultou em elevação dos prêmios de riscos, depreciação do câmbio, alimentando o processo inflacionário.

As contas fiscais, por sua vez, devem zerar o déficit primário em 2021 (-9,5% do PIB em 2020), graças a uma sucessão de fatores positivos, como os efeitos das altas taxas de inflação sobre a arrecadação, receitas extraordinárias, royalties de petróleo e dividendos de estatais, além da retomada da atividade econômica. Já em 2022, o déficit primário volta a subir devendo atingir 1,2% do PIB. Esse resultado refletirá, além do aumento dos gastos já contratados no Orçamento de 2022, o processo de desinflação, com a inflação voltando para o centro da meta, devendo desacelerar o crescimento das receitas. Pelo lado das despesas, boa parte das despesas obrigatórias é indexada à inflação passada, o que significa que alta da inflação de 2021 deve engordar os gastos ao longo de 2022. A dívida pública que recuou de uma participação de 89,2% do PIB em 2020 para 82,0% em 2021, deve voltar a subir para 87,1% do PIB ao final de 2022.

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