Um cenário para 2019

Um cenário para 2019

Cenário Econômico: A Herança de 2018 e os Desafios de 2019

O desempenho da economia brasileira, em 2019, será marcado pela capacidade do novo governo de promover as alterações socioeconômicas expressas pela maioria da população brasileira que optou por mudanças em detrimento da manutenção do status político representado pelos partidos tradicionais.

Desafiador também será o cenário internacional, mais desfavorável às economias emergentes, tornando-se menos leniente com economias que apresentam elevados desequilíbrios fiscais estruturais, cuja correção exige reformas profundas.

Caberá ao presidente eleito, Jair Bolsonaro, enfrentar o desafio de por em movimento um novo ciclo político que poderá ser instrumento de mudanças profundas, assim como, colocar a economia brasileira de volta ao crescimento sustentado, atendendo ao anseio da população.

A economia brasileira chegou ao final de 2018 sem sinais sólidos de retomada do crescimento. O endividamento elevado, tanto do setor privado como público, explica a razão de a economia mostrar lenta recuperação, apesar de contar com fundamentos saudáveis, como inflação e juros baixos. O setor privado já tem reduzido seu nível de endividamento, com destaque para as famílias, mas o setor público ainda conviverá por longo tempo com dívida crescente, obstante as reformas adotadas, limitando sua contribuição para o PIB. Além disso, ao longo do ano, a economia foi submetida a choques adversos – greve dos caminhoneiros; piora do cenário internacional; incerteza política – que abortaram o ciclo de recuperação iniciado na segunda metade de 2017. A atividade perdeu força durante o primeiro semestre, em um ambiente de maior aversão ao risco e menor confiança, que se atenuou na segunda metade do ano. O PIB deve crescer 1,3% em 2018, bem abaixo das projeções de 3% que predominavam no início do ano. Isso significa que o novo governo encontrará uma economia que continua patinando em um nível cerca de 10% inferior ao observado em 2014.

Os principais componentes da demanda se enfraqueceram por todo o ano. O consumo das famílias manteve baixas taxas de crescimento por conta do elevado desemprego (maior parte do ano ficou acima de 12%), renda estagnada e alto endividamento familiar, limitando o papel do crédito como estimulador dos gastos pessoais. Por outro lado, o ambiente de incerteza política, ao lado de grande ociosidade do setor produtivo e estagnação da construção civil não permitiram uma contribuição maior dos investimentos para a expansão do PIB.

Nem todo saldo foi negativo. O ano de 2018 deixa também heranças positivas, que devem contribuir para um ambiente favorável à retomada do crescimento. A inflação se manteve correndo abaixo da meta inflacionária (4,5%) durante todo o ano. A ociosidade de fatores de produção, principalmente no mercado de trabalho, atenuou os choques de preços que atingiram a economia, principalmente, os relacionados aos combustíveis e energia elétrica. É provável que a inflação, medida pelo IPCA, encerre o ano em 3,57%. Esse resultado, continuação do processo de desinflação iniciado em 2016, logrou manter as expectativas inflacionárias bem ancoradas mesmo para horizontes mais longos, como 2021, quando a meta será reduzida para 3,75%. Inflação rodando abaixo da meta e hiato do produto positivo permitiram ao Banco Central a redução da taxa básica de juros para patamares historicamente baixos, colocando em níveis semelhantes às presentes nas principais economias emergentes.

A piora do cenário externo nos últimos meses de 2018 impediu uma melhora expressiva dos ativos brasileiros, após as eleições terem confirmado a vitória de um candidato comprometido com o avanço das reformas econômicas. As condições financeiras melhoraram. O prêmio de risco país caiu, o câmbio se apreciou, os juros longos caíram e a Bovespa voltou a subir. Os indicadores de confiança, tanto dos empresários como dos consumidores, voltaram a refletir o otimismo dos agentes em relação à evolução da economia ao longo dos próximos meses.

A consolidação desse ambiente propício à retomada do crescimento poderá ganhar maior consistência caso o novo governo sinalize, já em seu começo, o compromisso de aprovar, ainda no primeiro semestre, uma convincente reforma da Previdência. Começaria criar condições para a obediência do teto dos gastos, numa sinalização inequívoca de que se estaria reduzindo, ou mesmo eliminando, o risco de insolvência do governo. Ainda que se conviva com déficits fiscais primários nos primeiros anos, haveria a percepção de que se estaria no caminho certo para tornar, novamente, as contas públicas superavitárias.

A retomada gradual do crescimento ganharia força, em meio a um ambiente inflacionário benigno, favorecendo a manutenção da taxa Selic em patamares historicamente baixos de forma sustentada. A ociosidade dos fatores de produção, em especial do trabalho, contribuiria para o avanço da demanda sem maiores pressões sobre os preços. Os fundamentos do consumo devem se fortalecer ao longo do ano, dando mais consistência ao ciclo de recuperação. O mercado de trabalho mais robusto, acelerando a queda do desemprego, fortalecerá os ganhos de renda. Corolário desse quadro seria uma redução adicional nos níveis de endividamento familiar, abrindo espaço para uma maior participação do crédito na determinação do consumo.

Outro vetor a impulsionar o ciclo de recuperação corresponde aos investimentos. O novo governo deve reforçar a prevalência de uma ambiente pró-negócios, dando ênfase na segurança jurídica de contratos, permitindo colocar em movimento a extensa agenda de concessões e privatizações, favorecendo os investimentos em infraestrutura, bem como, a recuperação do setor de construção civil.

O cenário para economia brasileira é positivo, mas não isento de riscos.

No âmbito externo, a ameaça se concentra em um ambiente internacional de maior aversão ao risco, com o mundo crescendo menos em meio à intensificação da guerra comercial entre Estados Unidos e China, ao mesmo tempo em que ocorre a normalização das taxas de juros nas economias avançadas. Os emergentes terão que aceitar moedas mais depreciadas, juros mais altos e menor crescimento econômico.

Internamente, o maior – risco encontra-se na esfera política. A frustração com as reformas e com os ajustes necessários à economia brasileira afetaria negativamente a confiança dos agentes, colocando em risco os avanços obtidos no campo dos juros e inflação recentemente.

Ambas as ameaças resultariam em elevação dos prêmios de risco país, com consequente desvalorização cambial, pressionando a inflação e a taxa de juros, resultando em frustração do crescimento da economia.

Redator: Newton Rosa
Economista Chefe SulAmérica Investimentos

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