Balanço do Primeiro Semestre de 2020

Balanço do Primeiro Semestre de 2020

O principal evento na economia mundial no primeiro semestre de 2020 foi a disseminação da pandemia de Covid-19. Inicialmente os efeitos foram sentidos na China, mas a partir de março eles se espalharam para outros países, resultando em grandes quedas de atividade e de preços de ativos. Assim que os efeitos da doença diminuíram, as medidas de distanciamento social foram relaxadas e os dados econômicos e preços de ativos melhoraram, ajudados também pela grande quantidade de estímulos fiscais e monetários adotados pelas autoridades de cada
país.

Na China, o PIB do 1º trimestre recuou -9,8% T/T, com a queda da atividade acontecendo em especial nos meses de janeiro e fevereiro, como visto na produção industrial (que diminuiu 25,4% nesses dois meses) e no varejo (-12,0% no mesmo período). Desde então, a atividade se recuperou, de maneira mais forte na indústria, que em maio estava 0,7% acima do nível do final do ano, enquanto o varejo e o consumo das famílias ainda estão 8,0% abaixo desse
patamar.

Nos EUA e na Zona do Euro, a queda da atividade ocorreu a partir de março, com redução da produção industrial de -16,5% nos EUA e -27% na Zona do Euro entre fevereiro e abril. Dessa forma, a queda no PIB do 1º trimestre ainda foi relativamente pequena, de -1,3% T/T nos EUA e -3,6% T/T na Zona do Euro. A contração no PIB 2º trimestre, que ainda não foi divulgado, deve ter sido muito maior, e houve revisão para baixo na expectativa de crescimento do PIB de 2020, pra -5,6% e -8,0%, respectivamente, comparado com 1,8% e 1,0% no começo do ano. Os dados de atividade começaram a se recuperar a partir de maio, com crescimento forte em especial nas vendas no varejo (+17,7% M/M nos EUA e +17,8% M/M na Zona do Euro), um resultado da política fiscal bastante estimulativa que foi adotada para combater a crise econômica, com grandes transferências de renda para pessoas que perderam emprego devido à pandemia. A política monetária também ficou bem estimulativa, com o Federal Reserve dos
EUA cortando a taxa de juros em 150 pb para próximo de zero, e os dois bancos centrais (Fed nos EUA e BCE na Zona do Euro) iniciando programas de compras de títulos públicos e privados e de estímulo ao crédito para sustentar o mercado financeiro.

No Brasil, a atividade econômica seguiu, de forma geral, o que ocorreu nos países ocidentais. Houve queda forte no IBC-Br de março (-6,7% M/M) e abril (-9,7% M/M), refletido na redução de -1,5% T/T no PIB do 1º trimestre. O governo, como em outros países, fez diversas medidas para combater a crise causada pela pandemia de Covid-19, com programas de estímulo ao crédito e de transferências de renda, resultando em uma piora para as projeções fiscais, indicando déficit primário acima de 11% do PIB e aumento da dívida pública bruta para mais de 90% do PIB. Esse último programa aparentemente teve grande impacto sobre a renda das famílias, fazendo com que a recuperação nas vendas no varejo a partir de maio fosse maior (+13,9% M/M) do que na indústria (+7,1% M/M). O Banco Central, por sua vez, reduziu a taxa de juros básica Selic em 225 pb desde o início do ano. Em fevereiro, o Copom (Comitê de Política Monetária) esperava que o corte de 25 pb (para 4,25%) fosse ser o último necessário,
porém a rápida alteração do cenário econômico fez com que mais cortes ocorressem nas reuniões seguintes. Na última reunião do semestre, em 17 de junho, quando reduziu a Selic para 2,25%, o Copom adotou um tom mais hawkish, vendo uma maior assimetria para cima na projeção de PIB para o ano (em -6,4% no cenário oficial do BC e -6,5% na média dos economistas) devido aos estímulos fiscais e creditícios e indicando que ajustes adicionais na
política monetária, doravante, seriam residuais.

Newton Rosa – Economista chefe responsável pelo Departamento Econômico

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