Emprego e atividade: lei de Okun

Emprego e atividade: lei de Okun

Emprego e atividade: lei de Okun

10/07/13

No "explicando o economês" anterior foram discutidos diversos aspectos do mercado de trabalho, como taxa de desemprego, taxa de ocupação e desalento. O mercado de trabalho do ponto de vista macroeconômico tem uma grande importância devido às suas relações com a taxa de inflação e com o crescimento econômico.

Na metade do século XX, na década de 60 para ser mais preciso, um economista inglês chamado Arthur Melvin Okun notou uma correlação negativa entre crescimento econômico e taxa de desemprego. Mais especificamente, um crescimento de 3% do produto resultaria numa queda de 1% na taxa de desemprego. Okun também notou outras correlações entre crescimento e outras variáveis do mercado de trabalho, por exemplo, 3% de crescimento resultaria em aumento de 0,5% na taxa de participação, aumento de 0,5% nas horas trabalhadas e aumento de 1% na produtividade por hora trabalhada. A relação negativa entre crescimento econômico e desemprego foi chamada então de "lei de Okun" e foi comprovada para diversos países além do Reino Unido.

Há diversas fórmulas usadas nos estudos da lei de Okun. Esta lei foi expandida para levar em conta os desvios do desemprego e da taxa de crescimento dos seus níveis "naturais" ou "de equilíbrio". A equação seria então:

(∆u-∆unat) = μ(∆y-∆ypot)

Onde ∆u é a variação na taxa de desemprego, ∆unat é a variação da taxa de desemprego natural (ou de equilíbrio), ∆y é a taxa de crescimento econômico e ∆ypot é a taxa de crescimento do produto potencial (a taxa de crescimento de longo prazo da economia). μ nesse caso seria o coeficiente que indicaria a magnitude do efeito da atividade econômica sobre a taxa de desemprego. No estudo original de Okun, este coeficiente seria -0,3. Uma taxa de crescimento econômico 3 p.p. acima da taxa potencial faria a taxa de desemprego ficar 1 p.p. abaixo da taxa natural.

A "lei de Okun", no entanto, é chamada de "regra de bolso", por não decorrer diretamente da teoria econômica, mas ser uma evidência empírica. Além disso, diversos estudos feitos nas décadas seguintes mostram que o tamanho dessa correlação entre emprego e atividade pode diferir entre países e também diferir no mesmo país em períodos diferentes. Por exemplo, um estudo de Ben Bernanke e Andrew Abel, de 2005, usando dados recentes dos EUA mostra que uma queda de 2% do produto resulta em aumento de 1% da taxa de desemprego. Ou seja, a magnitude da relação se alterou nos EUA ao longo das últimas décadas, com o parâmetro μ aumentando (em módulo) de -0,3 para -0,5, significando que a taxa de desemprego está respondendo mais aos movimentos do produto.

No Brasil, medidas sobre a lei de Okun esbarram no pequeno tamanho das séries históricas de desemprego, que têm pouco mais de 10 anos de acordo com a última metodologia do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Há também o que parece ser uma quebra estrutural na série nos últimos anos. Diferente do que ocorreu com os Estados Unidos ao longo de décadas, a magnitude dos impactos da atividade na taxa de desemprego parece ter diminuído nos últimos anos no Brasil. Essa queda do coeficiente da lei de Okun explicaria como é possível que o Brasil tenha apresentado taxas de crescimento tão baixas nos últimos anos ao mesmo tempo em que a taxa de desemprego permaneceu baixa, próxima dos níveis de pleno emprego.

Alguns economistas têm atribuído essa queda do coeficiente da lei de Okun a uma maior participação do setor de bens e serviços não comercializáveis (nontradeables) na economia brasileira, em detrimento do setor de bens e serviços comercializáveis. O setor de nontradeables, sendo menos produtivo que o de tradeables (devido a menor concorrência externa), necessita de mais mão de obra para produzir a mesma quantidade de produto. Dessa forma, se o crescimento ficar mais baseado no setor de nontradeables, uma taxa de crescimento menor pode ser condizente com uma mesma criação de empregos.

Redator: Rafael Yamano

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