IPCA – 15 – Dezembro

IPCA – 15 – Dezembro

IPCA-15 – Dezembro

O IPCA-15 de dezembro teve variação de 0,69% M/M, ficando acima da mediana das projeções do mercado (0,64% M/M) e da expectativa da SulAmérica Investimentos (0,65% M/M). A inflação em dezembro foi a mais alta do ano todo, sendo maior que a vista em novembro (0,54%) e outubro (0,65%). Essa configuração da inflação no final do ano não era esperada, dado que os efeitos do choque de commodities agrícolas na metade do ano sobre os preços brasileiros estão arrefecendo na margem. A alta de preços em dezembro se deveu a outros fatores, alguns pontuais, porém outros mais perenes. A inflação no IPCA-15 fechou o ano de 2012 em 5,78%, abaixo da vista em 2011 (6,56%), porém acelerando na comparação em 12 meses contra os meses imediatamente anteriores (5,56% em outubro e 5,64% em novembro).

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As maiores contribuições para a alta na inflação em relação a novembro ocorrem nos grupos Despesas Pessoais (de 0,30% para 1,10%), Habitação (de 0,33% para 0,74%) e Transportes (de 0,47% para 0,71%). Em Despesas Pessoais cabe destacar a forte variação em Empregado doméstico (0,82% M/M em dezembro), sendo que no ano houve aumento de 12,75%. Esse aumento elevado é devido ao reajuste do salário mínimo (de aproximadamente 14% em 2012). Houve também forte alta nos preços dos cigarros (de 0,00% para 2,66%), à medida que empresas do setor reajustaram os preços devido ao aumento de impostos que recai sobre seu produto. O aumento em Habitação no mês decorreu basicamente em função do aumento de energia elétrica em duas cidades (Belém e Rio de Janeiro). No ano de 2012 Habitação teve variação de 6,67%, com destaque para a forte alta em Aluguéis (8,98%) e Mão de obra (11,72%). Já o aumento de preços em Transportes em dezembro ocorreu devido às passagens aéreas, que tiveram variação de 17,08% no mês. No ano de 2012, passagens aéreas, tais como medidas pelo IBGE, tiveram variação acumulada de 25,95%. O grupo Transportes, apesar da alta pontual em dezembro, foi um dos destaques de baixa em 2012, devido à queda nos preços dos automóveis (decorrente da isenção de IPI), com variação de apenas 0,64% no ano.

Os efeitos dos aumentos dos preços das commodities agrícolas nos mercados internacionais na metade do ano tiveram seu "pico" em outubro desse ano, como era previsto pela SulAmérica Investimentos. A inflação dos alimentos comercializáveis ainda permanece elevada (terminou o ano em 7,85% no acumulado em 12 meses), porém está desacelerando (a variação mensal diminuiu de 2,29% M/M em outubro para 1,18% em novembro e 1,02% em dezembro),

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Os alimentos não comercializáveis (excluindo a alimentação para domicílio, que mistura características de serviços e alimentos) tiveram um ano bem atípico em 2012. Os anos anteriores foram caracterizados por choques negativos de oferta que levavam a aumentos de preços no começo do ano (devido às chuvas), porém com alguma compensação (queda nos preços) na metade do ano. Essa compensação não ocorreu em 2012, mesmo havendo também um choque negativo de oferta o primeiro trimestre. Isso levou a esses preços a terem inflação acumulada de 22,5% em 2012. Uma variação tão elevada assim não era vista desde 2008 e 2003.

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Se os choques de oferta (internos e externos) nos preços de alimentos resultaram em variação maior em 2012 (9,84%) do que em 2011 (6,99%), o mesmo não pode ser dito sobre os outros grupos de inflação. Todos eles tiveram variação mais baixa em 2012 do que em 2011, porém há muitas ressalvas que podem ser feitas sobre essas reduções.

Os preços administrados tiveram variação de 3,85% em 2012, contra 6,22% em 2011. Uma parte dessa queda pode ser explicada pelas eleições municipais, que fizeram os prefeitos não reajustarem as tarifas de transporte urbano nesse ano. No ano que vem é esperado que ocorra uma compensação, que levará a uma inflação maior nesses itens. Além disso, em 2011 os preços da gasolina foram pressionados para cima devido ao aumento do preço do etanol. Em 2012 não houve reajuste do preço da gasolina que fosse sentido pelo consumidor, porém há cada vez mais sinais de que isso pode ocorrer em 2013, podendo levar a um aumento de até 0,50 pp na nossa projeção de IPCA. Finalmente, o IGP-M elevado nesse ano (deve terminar o ano em 7,8%) deve levar também a um aumento no preço de diversas tarifas, em que o índice faz parte do cálculo. As tarifas de energia elétrica estão nesse caso. Elas sofrerão reajuste para baixo de em torno de 16% para os consumidores residenciais no começo do ano que vem, porém os reajustes tarifários anuais de cada distribuidora seguirão ocorrendo, sendo que o IGP-M é um dos índices usados para o cálculo desse reajuste. Dessa forma, há diversos sinais que indicam que a ajuda que os preços administrados deram para o IPCA de 2012 ficar mais baixo não seguirá ocorrendo em 2013.

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Os preços dos bens industriais também ajudaram bastante na redução do IPCA de 2012 em relação ao de 2011. A variação deles em 2012 foi de 1,47%, contra 3,15% em 2011. Essa variação mais baixa foi em grande parte causada pela queda nos preços de bens duráveis, em especial de automóveis e de itens da linha branca. Esses dois últimos foram bastante beneficiados pela isenção de IPI, que começou a vigorar, no caso dos automóveis, a partir de maio. É possível perceber o efeito grande que essa isenção teve sobre os preços ao ver a deflação de -0,52% e -0,32% que ocorreu nos bens industriais em junho e julho. Nos dados mais recentes, no entanto, os preços industriais estão pressionados mais para cima (variação média de 0,46% M/M nos últimos três meses). Parte disso ocorre devido aos preços de vestuário, que estão ficando mais elevados devido à desvalorização cambial que ocorreu nesse ano. A não ser que ocorram novas e vultosas isenções de impostos para a indústria, a expectativa é de que a variação desses preços seja maior em 2013 do que em 2012.

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A inflação de serviços foi outra que ajudou a conter a alta de preços em 2012. Ela terminou o ano de 2011 em 9,0%, porém em 2012 a inflação de serviços foi de 7,95%, nesse caso calculando os serviços sem contar alimentação fora do domicílio e passagens aéreas, como era feito pelo BC até 2011. No novo cálculo de serviços, feito a partir deste ano e contando esses itens, a inflação ficaria em 8,16%, ainda assim mais baixa que a de 2011. A queda nos preços de serviços em 2012 ocorreu basicamente devido à reponderação do IPCA no começo do ano. Um cálculo sobre a inflação de serviços utilizando os pesos antigos mostraria a persistência dessa inflação em patamares elevados. Nos meses recentes, reverteu-se a tendência de queda desse item, voltando a mostrar novamente trajetória de alta, não importando a forma de calculo. A razão para esses preços estarem pressionados é conhecida: a baixa taxa de desemprego e o reajuste do salário mínimo de 14% que ocorreu nesse ano. O reajuste do ano que vem deve ser bem mais baixo (em torno de 8,6%), porém a taxa de desemprego ainda muito baixa deve fazer com que a inflação de serviços siga pressionada, dessa vez não havendo compensação pela reponderação do IPCA.

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O IPCA-15 de dezembro se mostrou pressionado acima do que era esperado pela SulAmérica Investimentos, com aumentos acima do esperado em preços como passagens aéreas. A projeção para o IPCA de dezembro foi reajustada para 0,70%, contra 0,65% que havia antes. A perspectiva para o IPCA como um todo em 2013 é de variação mais elevada, uma vez que há uma boa possibilidade de o reajuste de tarifa de energia elétrica ser compensado por um reajuste no preço da gasolina. Há diversas razões para crer em uma inflação maior e mais disseminada em 2013, pelo menos nos itens não ligados a alimentos.

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