IPCA – Fevereiro

IPCA – Fevereiro

IPCA – fevereiro

08/03/13

Em fevereiro, o IPCA subiu 0,60% no mês, uma variação acima do consenso do mercado (0,49%) e da projeção da SulAmérica Investimentos (0,48%). Nos últimos doze meses, a inflação acumulou alta de 6,31%, aproximando-se do teto oficial da meta (6,5%). Há diversos indicativos de que a inflação deve superar esse teto ao longo do primeiro semestre do ano, sendo que na projeção da SulAmérica Investimentos isso deve ocorrer já em março, com a inflação começando a recuar apenas a partir de junho.

A inflação em fevereiro recuou em relação à de janeiro (0,86% M/M) devido em especial ao comportamento de Alimentação e bebidas e Habitação. Dentro de Alimentação e Bebidas houve uma ligeira desaceleração em relação ao mês anterior (de 2,5% M/M para 1,6% M/M), porém essa desaceleração ficou aquém da esperada (1,4% M/M). Os preços de alimentos de forma geral, tanto comercializáveis quanto não comercializáveis, seguem com alta, com destaque para os últimos. No grupo Habitação a grande responsável pela variação menor (e negativa) foi a tarifa de energia elétrica, que recuou 16%, refletindo a queda de 18% que ocorreu a partir de 24/jan. Essa queda da energia elétrica foi responsável por tirar 0,48 pp do IPCA de fevereiro. Caso ela não ocorresse, teria sido visto uma aceleração do IPCA para 1,08% M/M, que seria a maior inflação mensal desde março de 2003.

O aumento de preços ocorreu de forma bastante disseminada no IPCA. O índice de difusão, que mede o percentual de subitens que teve alta no mês, recuou ligeiramente em relação ao do mês anterior, de 75% para 72%. Entretanto, é importante também observar o índice de difusão excluindo os subitens de alimentos, uma vez que esses são muito numerosos e colocam bastante volatilidade (e sazonalidade) nos dados mensais. Olhando esse índice ex-alimento, é possível ver que o índice de difusão aumentou entre janeiro (71%) e fevereiro (74%), indicando alta mais generalizada de preços.

Nas categorias de uso, cabe destacar que a inflação está “tranquila” apenas para os preços administrados. No caso dos preços administrados, a queda ocorrida no mês (-1,1% M/M) e a variação baixa na comparação em 12 meses (1,5% A/A) deve ser temporária, causada pela queda das tarifas de energia elétrica. A inflação de administrados deve voltar para 3,3% A/A até o final do ano, com os reajustes defasados de transporte urbano e os programados de energia elétrica ocorrendo.

A inflação de serviços, mesmo não acelerando em fevereiro, permanece alta, acima de 8,0% A/A. Os reajustes da educação em 2013 ficaram abaixo dos vistos em 2012, de forma geral. O aumento do salário mínimo também foi menor (9% contra 14%). No entanto, a inflação de serviços ainda segue pressionada de forma geral e não cai devido à taxa de desemprego, que ainda se encontra muito baixa para os padrões históricos.

A inflação de alimentos e de bens industriais é preocupante. Os bens industriais, que foram os que tiveram menor variação no ano de 2012, estão tendo inflação maior em 2013. O melhor momento pelo qual a indústria passa (comparado ao começo do ano anterior) permite à indústria repassar os aumentos de custos, como fim das isenções de IPI (e aumentos em certos casos, como bebidas e fumo), aumento dos impostos de importação e câmbio mais desvalorizado. A inflação mais elevada nos bens industriais deve seguir ocorrendo ao longo de 2013.

A inflação de alimentos, por sua vez, está surpreendo para cima nos últimos meses provavelmente devido a um choque de oferta interno. Os preços de alimentos não comercializáveis com o exterior (nontradeables) estão bastante elevados, com variação trimestral próxima da vista em outros momentos de choque de oferta (2008, 2010). Nesses casos houve reversão do movimento nesses preços, com deflação nos meses seguintes, porém o “vale” da deflação ocorreu apenas 4 meses após o “pico” da inflação. Isso significa que a inflação de alimentos deve ficar mais fraca em março, porém ainda bastante positiva, com as variações negativas mais intensas ocorrendo apenas em junho e julho. O efeito dessa deflação no IPCA geral deve ser compensado pelo aumento nas outras categorias de uso (IPI no caso dos bens industriais e tarifas de ônibus urbano no caso dos administrados).

O IPCA de fevereiro, dessa forma, surpreendeu para cima, com variação mais de 10 pb acima da esperada. O aumento de preços está bastante disseminado pela economia, como pode ser visto pelo índice de difusão e pelo índice de difusão ex-alimentos. O IPCA em 12 meses deve superar o teto da meta (6,50%) nos próximos meses, recuando apenas no segundo semestre do ano. Mesmo os fatores que podem levar a uma inflação mais baixa no futuro próximo (queda nos preços de alimentos devido à maior safra, isenção de impostos para determinados produtos, como a cesta básica ou etanol) podem ser compensados por aumentos de preços programados para ocorrer no próximo trimestre (transporte urbano, fim das isenções da IPI). Além disso, há uma diferença entre variação de preço e inflação. A inflação, na sua definição mais estrita, é um aumento generalizado de preços. E parece que é isso que está ocorrendo com a economia brasileira.

Topo