Um cenário econômico para 2014

Um cenário econômico para 2014

Um cenário econômico para 2014

i) Economia Internacional

A economia internacional em 2013 foi marcada por uma grande diferença no desempenho entre países avançados e países emergentes. O crescimento econômico foi puxado pelos desenvolvidos, enquanto os emergentes se ressentiram da desaceleração da economia chinesa e o fraco desempenho das commodities em geral.

Os Estados Unidos conseguiram evitar a recessão, apesar do ajuste fiscal em curso, que reduziu o déficit público de 6,5% do PIB ao final de 2012 para 3,5% no final deste ano. À ação recessiva do ajuste fiscal contrapôs-se a política monetária estimulativa praticada pelo Fed. Além de manter a taxa básica de juros em 0%, adotou, a partir do final do ano passado, a injeção US$ 85 bilhões/mês (QE3) na economia, por meio de compras de títulos, objetivando manter os juros longos em patamares reduzidos. Buscava incentivar os financiamentos imobiliários e corporativos, além do crédito ao consumidor. O mercado de trabalho mostrou melhora, com o desemprego recuando para 7,3%, ainda que o volume de criação de vagas tenha ficado aquém de 200 mil/mês vista pelo Fed como sinal de recuperação consistente do mercado de trabalho.

O bom desempenho da economia americana na primeira metade de 2013 levou o Fed a cogitar a redução dos estímulos monetários, por meio da diminuição no volume mensal de compra de ativos. A expectativa com relação a essa redução (batizada de tapering) guiou boa parte do movimento dos mercados financeiros. Os juros longos subiram e o dólar se valorizou contra outras moedas, refletindo a saída de capitais de ativos de maior risco, incluindo os emergentes, principalmente daquelas economias com maior desequilíbrio externo.

A desaceleração da economia americana, impactada pelo ajuste fiscal e pela crise política que acabaria com a paralisação parcial do governo em outubro, afetou o desempenho da economia na segunda metade do ano. Recuperação do emprego aquém das expectativas oficiais e taxas de inflação abaixo da meta de 2% ao ano levaram o Fed a postergar o início da redução dos estímulos monetários. O PIB americano deve fechar 2013 com expansão em torno de 1,7%. Para 2014, as expectativas são melhores. O ajuste fiscal será menor: de 3,5% do PIB deste ano para 3,0% ao final de 2014. O PIB deve voltar a crescer mais próximo de seu potencial (2,5%). O Fed, provavelmente, deverá esperar pela confirmação dessa tendência para só então iniciar a redução dos estímulos. Provavelmente isso deve ocorrer a partir de março de 2014.

Na Europa, o quadro econômico tem mostrado sensível melhora. Após seis trimestres consecutivos de retração econômica, o PIB da Zona do Euro voltou a crescer. Isso refletiu esforços concentrados em uma agenda de reformas estruturais para garantir a competitividade do bloco, principalmente da periferia da região. Além disso, as políticas adotadas conseguiram estancar o pessimismo nos mercados e iniciaram o lento processo de correção dos desequilíbrios no bloco, além da melhora na margem da demanda internacional. O comprometimento demonstrado em evitar a ruptura da Zona do Euro permitiu a estabilização dos mercados, abrindo espaço para a recuperação gradual da confiança das famílias e empresários. Os dados econômicos mais recentes refletem esse diagnóstico. A atividade econômica avança, dando mais consistência ao crescimento. O mercado de trabalho ainda se encontra frágil, mas as taxas de desemprego se estabilizaram, recentemente. O PIB da Zona do Euro deve fechar o ano com queda de 0,5% (-0,4% em 2012). Os avanços nas reformas estruturais e as melhoras a serem observadas na economia americana e estabilização do crescimento chinês devem favorecer o setor externo europeu, abrindo espaço para que o PIB cresça 1,1% em 2014.

As economias emergentes tiveram um desempenho modesto em 2013. Parte disso deve-se à evolução da economia chinesa. O crescimento econômico chinês começou o ano em desaceleração, ao mesmo tempo em que as lideranças do País começavam a priorizar reformas estruturais de longo prazo. O PIB chinês se desacelerou por treze trimestres consecutivos, passando de 11,9% registrado no 1T10 para 7,8% no 3T13. Diante desse contexto, o governo optou por anunciar um mini pacote de estímulos (aumento nos investimentos em infraestrutura) no segundo semestre deste ano para tentar evitar uma desaceleração mais desordenada da economia chinesa. Esse mini pacote estancou a queda na produção industrial e estabilizou o crescimento do PIB em torno de 7,5% no final de 2013. Entretanto, o cenário para a China é de crescimento flutuando em torno de 7,0% nos próximos anos, enquanto se procede a realização das profundas reformas estruturais pretendidas pelo atual governo.

Outra razão para o mau desempenho das economias emergentes foi a ameaça de redução dos estímulos monetários nos EUA (tapering). Essa ameaça foi o suficiente para que um movimento de saída de capitais dos países emergentes ocorresse. Esse movimento foi mais intenso nos países com déficits em transações correntes (Índia, Indonésia, Turquia, África do Sul e Brasil), que estavam em situação mais frágil do que outros. Esses países adotaram medidas para conter a fuga de recursos, inclusive o controle de capitais, a venda de reservas internacionais e o aumento dos juros. Mesmo os países menos afetados pela fuga de capitais (Chile, México, Colômbia, Peru) tiveram desempenho fraco neste ano. Com o crescimento mais baixo que o esperado, os bancos centrais adotaram políticas monetárias estimulativas, visando reverter a tendência de desaceleração do crescimento observado neste ano.

Diante desse quadro, estimamos o crescimento global em 3,0% em 2013 elevando-se para 3,5% em 2014, refletindo principalmente a consolidação do crescimento nos EUA e a estabilização da economia chinesa.

ii) Economia Brasileira

A economia brasileira deve registrar mais um ano de baixo crescimento em 2012, ainda presa em uma armadilha de fraco desempenho econômico e inflação sistematicamente acima do centro da meta. A atividade econômica brasileira chegou a esboçar um maior dinamismo no primeiro semestre, com a taxa de expansão do PIB passando de 0,7% T/T no 1º trimestre para 1,4% T/T no 2º trimestre. Essa melhora refletiu as políticas pontuais de estímulos aos setores voltados ao consumo e aos investimentos, além de um alento vindo da demanda externa, com maior crescimento das economias desenvolvidas. Entretanto, os protestos da metade do ano, junto com o aumento da aversão ao risco dos mercados financeiros decorrentes da expectativa do tapering nos EUA, fizeram com que a confiança econômica diminuísse no segundo semestre.

Segundo nossas projeções, o PIB deve ter expandido 2,7% neste ano (0,9% em 2012), graças ao bom desempenho no 1º semestre do ano. Mais uma vez, o fraco resultado no período foi marcado pela estagnação da produção industrial, reflexo da baixa competitividade do setor ante a concorrência externa, como também o recuo dos investimentos, diante do fracasso das concessões conduzidas pelo governo e pelas incertezas presentes no cenário internacional. As despesas com consumo, objeto central da política econômica do atual governo, deve mostrar uma performance modesta em 2013. Baixa confiança do consumidor, elevado grau de endividamento das famílias e um mercado de trabalho que começa a dar os primeiros sinais de enfraquecimento explicam a desaceleração do consumo neste ano.

Como dito acima, o tapering afetou a economia brasileira, assim como outras economias emergentes. O real mostrou forte depreciação, levando o Banco Central a colocar em prática um programa de oferta de divisas, para estancar a depreciação do real, que deve encerrar o ano com uma depreciação média de 10% em relação ao ano passado. Ainda assim, a balança comercial deve encerrar 2013 com superávit próximo de zero (US$ 19,5 bilhões em 2012). Esse resultado, que refletiu a política de expansão do consumo em um ambiente de produção estagnada, levou a forte crescimento das importações, enquanto as exportações eram contidas pelas menores cotações internacionais das commodities. Em consequência, a economia brasileira deve fechar o ano com um déficit em conta corrente em torno de US$ 80 bilhões (3,7% do PIB). Em um cenário de provável enxugamento da liquidez internacional, pela alteração da política monetária americana, esse déficit externo impõe uma tendência de depreciação de médio prazo para a moeda brasileira.

A inflação no Brasil permaneceu elevada ao longo do ano, com choques de oferta fazendo a inflação de alimentos subir consideravelmente no início de 2013. A inflação em 12 meses chegou a 6,7% A/A em junho deste ano, mas depois diminui para o patamar de 5,8% A/A. Esse patamar ainda é elevado, sendo basicamente igual ao visto no ano passado. Um fator preocupante é o fato de os preços livres estarem com variação de 7,4% A/A, enquanto os preços administrados, devido a diversos fatores extraordinários, apresentarem variação de 1,0% A/A, a menor da história. Há um temor de que a inflação de 2014 vá ser mais elevada devido à volta dos preços administrados ao seu patamar usual (entre 3,0% e 4,5%), uma vez que não há mais espaço para a renúncia fiscal observada em 2013. Já os efeitos defasados da depreciação cambial também causam receio de que a inflação pode ficar mais elevada.

Com a inflação surpreendendo para cima no começo do ano, o Banco Central se viu forçado a iniciar um ciclo de aperto monetário a partir de abril. As ações do Banco Central se mostraram mais ortodoxas do que a maior parte do mercado acreditava. Enquanto o mercado projetava o final do ciclo com a Selic em 8,5% ao ano, as autoridades mantiveram o discurso conservador, dando continuidade ao processo de elevação da Selic, que deve fechar o ano em 10%. Ainda assim, a perspectiva é de que o Banco Central precise fazer um aperto ainda mais forte em 2014 para que as expectativas de inflação sejam contidas em níveis mais próximos do centro da meta oficial.

A política fiscal brasileira mostrou sinais de deterioração ao longo do ano. O superávit primário diminuiu, devido a diversas isenções fiscais que o governo fez no começo do ano (para estimular a economia ou tentar conter a alta dos preços), resultando em aumento menor de receitas. As despesas também seguiram subindo, em especial as de custeio e as transferências com seguro desemprego e previdência. A qualidade dos gastos fiscais também piorou, com menor crescimento dos investimentos. Mais uma vez, a meta oficial de superávit fiscal de 2,3% do PIB (já excluídos os gastos com o PAC) não será cumprida. Muito provavelmente, o esforço fiscal deverá ficar em 1,7% do PIB que, excluindo “as mágicas contábeis”, deve ficar em 0,9% do PIB. Com isso a relação Dívida Pública/PIB, que deve fechar o ano em 35,2% do PIB, deve voltar a crescer no próximo ano, alimentando rumores quanto à possível rebaixamento da nota de rating da economia brasileira, pelas agências internacionais.

A economia brasileira deve começar 2014 tentando acomodar a pesada herança recebida do ano anterior, calcada em baixo crescimento econômico, inflação em alta, maiores juros reais, baixa confiança dos agentes, desequilíbrio externo e deterioração das contas públicas. Mas 2014 não será um ano de ajuste. Ano eleitoral, com chances não desprezíveis de atual governo permanecer por mais quatro anos, reforça a tendência de acomodação da política econômica, evitando alterações mais bruscas que mexam com o delicado equilíbrio político que vigora atualmente.

A política econômica seguirá trilhas semelhantes às observadas em 2013. Procurará manter estímulos ao consumo e aos investimentos ainda que não tenham sucesso em reverter o quadro de baixa confiança dos agentes econômicos. O PIB continuará a refletir o baixo dinamismo da economia brasileira: deverá se expandir abaixo de 2013, atingindo no máximo 2,0% em 2014. A inflação deverá ficar rodando pouco acima de 6,0%, com objetivo principal da política econômica concentrado em impedir que o IPCA supere o teto da meta oficial de 6,5%.

Em resumo, a permanência de baixo crescimento econômico, alta inflação e agravamento dos desequilíbrios fiscais e externo ao longo do próximo ano fazem de 2015 uma ano de ajuste macroeconômico inevitável, reforçado também por um cenário internacional mais adverso.

Superintendência de Economia

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