Um cenário econômico para 2015

Um cenário econômico para 2015

Um cenário econômico para 2015

I) Economia Internacional

A economia mundial seguirá crescendo de forma modesta e desequilibrada, ao longo do próximo ano. O PIB global deve ter crescido 3,3% em 2014, devendo evoluir para 3,8% em 2015, segundo as projeções do FMI.

Entre as economias desenvolvidas, apenas os Estados Unidos apresentam crescimento consistente, sem risco de voltar para a recessão. O PIB americano vem crescendo em um ritmo médio anualizado de 4,8% no segundo e terceiro trimestres deste ano. Nesse processo nota-se participação crescente do consumo e investimentos. Mercado de trabalho se fortalece, tendo gerado 2,25 milhões de empregos no período jan/nov, derrubando a taxa de desemprego de 7,9% em janeiro de 2013 para 5,8% em novembro último. Em que pese o maior dinamismo, a inflação permanece contida, flutuando em torno de 1,5%, abaixo da meta de 2% estabelecida pelo banco central americano (Fed). O forte ritmo de expansão observado nos últimos dois trimestres não deve se repetir no último quarto do ano. A acomodação do crescimento deve levar o PIB a fechar 2014 com variação de 2,6%. Em meio, a indicadores que mostram a consolidação da trajetória de crescimento pode-se esperar pelo início da normalização da política monetária americana, no próximo ano. O momento em que o Fed começará o aperto monetário ainda é uma incógnita. No mercado, o consenso aponta para o 2º semestre. O dinamismo observado nos últimos meses, que poderia resultar em taxa de desemprego abaixo de 5% em algum momento em futuro próximo poderia levar o Fed a antecipar o começo da alta da taxa de juros para o primeiro semestre de 2015.

Na Europa, permanece o quadro de fraqueza econômica, caracterizada pela alta ociosidade de fatores, fruto das políticas de ajuste praticadas na maioria dos países da zona do euro. Alto desemprego, crédito emperrado, baixo consumo e investimentos estagnados colocam a inflação em níveis muito próximos de zero, acentuando os riscos de a economia mergulhar em um quadro de estagnação. A fragilidade da zona do euro tem levado o Banco Central Europeu (BCE) a adotar políticas estimulativas mais agressivas. O objetivo é reanimar o sistema de crédito, necessário para que se restabeleçam os canais de financiamento do consumo e investimentos necessários para economia europeia voltar a crescer.

A economia da China se prepara para ingressar em um cenário de taxas de crescimento mais baixas se comparadas aos padrões recentes. O PIB deve encerrar 2014 com expansão em torno de 7,3%. Para 2015 em diante, as expectativas são de taxas menores, podendo flutuar entre 7% e 6%. Esgotou-se a estratégia, adotada a partir de 2088, de estimular o crescimento via expansão do crédito, direcionado, principalmente, aos investimentos em infraestrutura e ao setor imobiliário. Essa estratégia não conseguiu estancar a crise do setor industrial, que começou a perder fôlego com o fim do modelo exportador após a crise 2008/2009, passando a exibir elevada capacidade ociosa, espelhada em persistente deflação dos preços industriais, nos últimos três anos. Surgiram “bolhas” em setores específicos como o de imóveis residenciais, ao mesmo tempo em que a maturação dos investimentos acentuava a ociosidade na economia. Iniciou-se, recentemente, o processo de rebalanceamento do modelo de crescimento chinês, agora como crescimento baseado na demanda doméstica. Nesse processo, o dinamismo centra-se no setor de serviços, menos produtivo que o industrial, resultando na obtenção de menores taxas de crescimento, mas preservando o mesmo nível de emprego. O governo tem adotado medidas de relaxamento monetário (corte nos juros, redução do compulsório bancário) com o intuito de impedir que a economia caminhe para um hardlanding. O objetivo é estabilizar o crescimento em 7% ao ano.

A economia global, em 2015, continuará crescendo de forma gradual, com destaque para a economia americana, implicando em juros mais elevados e um dólar forte nos próximos anos. Os preços das principais commodities devem se manter deprimidos, não só pelo baixo crescimento econômico chinês, como também pelo fortalecimento da moeda americana. Esse cenário é desfavorável para as economias emergentes em geral, que deverão conviver com moedas fragilizadas, juros em alta e menor crescimento econômico.

I) Cenário 2015

A economia brasileira deve contabilizar mais um ano de baixo crescimento em 2014, à semelhança do observado desde 2011. O PIB acumulou expansão de apenas 0,8% nos últimos doze meses terminados em setembro. Os indicadores conhecidos sobre os últimos três meses do ano não permitem otimismo, sustentando as projeções de crescimento pouco acima de zero para 2014.

Esse padrão de fraco dinamismo reflete a piora dos fundamentos da economia resultante da política econômica implementada nos últimos anos. Os determinantes do consumo, como emprego, renda e crédito perdem força diante de um consumidor cada vez mais retraído. A confiança dos empresários encontra-se em níveis historicamente baixos, refletido na estagnação dos investimentos, principal limitador do crescimento potencial da economia.

Um dos principais desafios no próximo ano será o de criar as condições para que a economia retome o crescimento nos anos vindouros. A economia brasileira deve começar 2015 focada na solução dos desequilíbrios acumulados recentemente, espelhados em elevada taxa de inflação, baixa confiança dos agentes, déficit externo e deterioração das contas públicas. O ano de 2015 deverá ser um ano de ajuste.

Uma das principais preocupações será colocar a inflação numa trajetória que traga a inflação para o centro da meta oficial (4,5%) em um prazo definido. Nesse sentido, o maior desafio será a correção dos preços administrados, artificialmente definidos com o objetivo de controlar a inflação. Os reajustes de combustíveis, transportes urbanos e energia elétrica, entre outros, embutem significativa carga de inflação represada. Concomitantemente, a economia estará vivenciando o realinhamento de preços decorrentes da desvalorização cambial decorrente da valorização global do dólar. O impacto da alta dos preços administrados somado a ainda elevada inflação de serviços – alimentada pela correção real do salário mínimo e um mercado de trabalho ainda apertado – deverão fazer com que o IPCA fique em torno de 7% em 2015.

O Banco Central voltou a subir os juros em outubro passado, encerrando o ano com a Selic em 11,75%. O novo ciclo de aperto monetário deverá prosseguir em 2015. Seu limite dependerá da evolução favorável das expectativas inflacionária, bem como da contribuição positiva de uma política fiscal efetivamente contracionista.

Um maior esforço fiscal terá implicações positivas não apenas no controle da inflação como também na retomada do crescimento econômico. A retomada da austeridade fiscal, gerando superávits primários para interromper a alta do endividamento público será fundamental para recuperar a confiança dos empresários, bem como segurar a evolução da demanda doméstica atenuando os desequilíbrios espelhados na inflação e no déficit externo. Um superávit de 1,2% do PIB, conforme prometido pela nova equipe econômica, obtido sem artifícios e receitas para-fiscais, eliminaria o risco de se perder o grau de investimentos concedido pelas agências de rating, reforçando a confiança dos agentes na evolução da economia brasileira.

A melhora das contas públicas permitirá a elevação da poupança doméstica, abrindo espaço para o crescimento dos investimentos e consequente aceleração do crescimento econômico ao longo dos próximos anos. Além disso, traria efeitos colaterais benignos não só sobre a dinâmica inflacionária no médio prazo como também sobre o déficit em conta corrente no curto prazo.

Em 2015, por ser um ano de ajuste econômico, objetivando colocar a economia de volta aos trilhos, o PIB ainda registrará um crescimento baixo. Projetamos crescimento em 0,5%, enquanto a inflação absorverá os realinhamentos dos preços defasados podendo superar o teto da meta.

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