Um Cenário para 2017

Um Cenário para 2017

Um Cenário para 2017

Introdução

O ano de 2016 foi marcado por surpresas, tanto no front político como econômico. Eventos como o Brexit (a saída da Inglaterra da União Europeia) e a eleição de Donald Trump contribuíram para maior incerteza global, em um mundo preocupado com a evolução da economia chinesa e com infindáveis crises geopolíticas.

O Brasil passou pelo afastamento da presidente Dilma e o início de um novo governo, com mudanças drásticas na orientação da política econômica, mas pressionado por baixo apoio popular em meio às incertezas decorrentes da operação Lava Jato e uma economia mergulhada em profunda recessão.

Internacional

Entre os diversos eventos que ocorreram em 2016, o mais surpreendente foi a vitória de Donald Trump para a presidência dos EUA. Com um discurso pró-crescimento, calcado na expansão fiscal e creditícia, colocou em xeque o cenário atual marcado por elevada liquidez e juros próximos a zero. Os mercados passaram a precificar a vigência de um novo ambiente macroeconômico, caracterizado por juros elevados e dólar forte. O FED foi obrigado a abandonar a cautela no ajuste monetário, sinalizando para um ajuste mais forte à frente.

Por outro lado, os principais BCs das economias avançadas começaram a reconhecer as limitações de suas políticas de dinheiro fácil, buscando encorajar os políticos a conduzir o crescimento por meio de estímulos fiscais. Enquanto o Banco do Japão (BoJ) reluta em lançar mão dos estímulos monetários adicionais, apesar da fraqueza da economia japonesa, o Banco Central Europeu (BCE) estendeu seu programa de compra de títulos até o final de 2017, mas reduziu o volume comprado de 80 bilhões de euro/mês, para 60 bilhões de euros a partir de março.

Os EUA devem fechar 2016 com crescimento em torno de 1,5%. Depois de um primeiro semestre de fraco crescimento, a economia deslanchou na segunda metade do ano. Essa trajetória deve ser reforçada pela politica estimulativa do novo governo em 2017. O PIB americano deve aumentar 2,1% no próximo ano. Europa e Japão devem manter um quadro de estagnação econômica, mantendo baixas taxas de crescimento e inflação próxima de zero. A economia da China tem respondido positivamente aos estímulos governamentais, devendo fechar 2016 com crescimento pouco acima da meta oficial (6,5%). O crescimento baseado na expansão do crédito já dá sinais de esgotamento.

O crédito corporativo atingiu 180% do PIB em 2016, em um setor envolto em elevada ociosidade, reduzindo a eficiência na alocação de crédito, além de aumentar a vulnerabilidade financeira. O cenário para os próximos anos é a manutenção do pouso suave da economia chinesa.

Em que pesem as prováveis mudanças de balanceamento da política econômica nos países avançados, a economia mundial deve manter um crescimento moderado, não muito diferente do observado em 2016. O risco maior para a economia mundial, nos próximos anos, seria a adoção de medidas protecionistas pelo novo governo norte-americano. O enfraquecimento do comércio mundial, a médio prazo, resultaria em queda da produtividade em termos globais, levando a um cenário de desaceleração da economia mundial.

Para 2017, as projeções apontam para o mundo crescendo 3,3%, ligeiramente acima do crescimento de 3,1% esperado para 2016.

Economia Brasileira

A economia brasileira deve encerrar 2016 com queda de 3,4%, acumulando retração próxima de 8% no biênio 2015/16. As fortes contrações do consumo das famílias e dos investimentos explicam o desempenho no período. A taxa de desemprego, excluído os efeitos estacionais, ficou em 9,0% 2015, devendo fechar 2016 em 12,5%. A inflação, que iniciou o ano em 10,7%, apresentou trajetória de queda ao longo do ano, acentuada nos últimos meses, devendo ficar ligeiramente abaixo do teto da meta de inflação (6,5%). Esse desempenho, em meio ao aprofundamento da queda da atividade, permitiu que o Banco Central desse início a cauteloso processo de flexibilização monetária. As contas públicas ressentiram-se das fortes quedas da arrecadação, devendo apurar déficit primário de 2,5% do PIB, o que fará com que a dívida pública alcance 72,5% do PIB.

Os indicadores de confiança voltaram a mostrar deterioração nos últimos meses, captando o agravamento da crise política, diante de uma economia que não dá sinais de melhora. O elevado nível de endividamento da economia como um todo impõe forte restrição à retomada do crescimento. A desalavancagem do setor público em todas as suas esferas e do setor privado (famílias e empresas) tem limitado a reação da economia, levando a postergação das decisões de consumo e investimentos. A atividade econômica enfraqueceu nos últimos meses, sugerindo que o fundo do poço não será alcançado no final de 2016. O PIB deve mostrar ligeira queda no último trimestre, deixando um efeito negativo para 2017.

A manutenção da estabilidade do ambiente político, garantindo a governabilidade necessária à aprovação das reformas estruturantes, é hipótese básica para a retomada do crescimento ao longo de 2017. As incertezas sobre os desdobramentos políticos da operação Lava Jato se constituem na maior ameaça a esse cenário. Projetamos expansão de 0,40% para o PIB em 2107. A modesta recuperação da atividade, neste ano, reflete os fortes limitantes ao crescimento presentes na economia.

O endividamento corporativo atingiu 25,6% do PIB em outubro, após ter atingido o pico de 28,5% em maio último. Esse nível de alavancagem praticamente fecha as portas do crédito como fonte de financiamento dos investimentos. Os lucros retidos estão sendo utilizados para limpar os balanços, diminuindo a disponibilidade de recursos para a despesa com investimentos. O ambiente político conturbado deve contribuir para a manutenção dos investimentos em compasso de espera. Outro fator que inibe as decisões de investir é a elevada capacidade ociosa presente no parque produtivo.

Os fundamentos do consumo permanecem frágeis. O nível de endividamento das famílias encontra-se em níveis elevados (25,2% do PIB). A taxa de desemprego deve continuar subindo ao longo do primeiro semestre, levando a contração adicional da renda. Na melhor das hipóteses, espera-se por tímida contribuição do consumo para a retomada da atividade, neste ano.

O setor público também se encontra altamente endividado, impondo a necessidade de um ajuste fiscal profundo, implicando na reversão dos déficits fiscais primários. A limitação da evolução dos gastos públicos terá um efeito negativo sobre o consumo do governo nos próximos anos, se constituindo em mais um limitativo para a recuperação do PIB no curto prazo.

Atenuante a esse ambiente de restrições viria das taxas de juros, que podem apresentar significativa trajetória de queda ao longo de 2017, constituindo-se em fator importante na determinação da recuperação (ainda que tímida) que a economia apresentará neste ano.

A inflação que se mostrava mais resiliente ao longo da primeira metade do ano passado ingressou em um processo desinflacionário mais incisivo ao longo dos últimos meses. Contribuiu para isso o agravamento da recessão. O aumento do hiato do produto atenuou o processo de alta de preços relacionados à atividade, como os serviços, contribuindo para reduzir a inércia presente nesse grupo de preços.

Melhora na oferta de grãos (soja, milho) reduziu os preços dessas commodities, com importante impacto baixista sobre a cadeia proteica. A apreciação do real e a queda da demanda determinaram tendência baixista aos produtos industriais. O IPCA, que encerrou o primeiro semestre contabilizando inflação de 8,84% em termos anuais, deve ficar em 6,29% ao final de dezembro, fechando 2016 dentro da meta.

Agenda política evoluindo para a construção de novo regime fiscal, atividade em queda e perspectivas inflacionárias convergindo para o centro da meta geram ambiente que permitirá ao Banco Central intensificar a redução da Selic ao longo de 2017. Esse processo terá como corolário a aceleração do processo de desalavancagem das empresas e família, permitindo a retomada do crescimento.

As expectativas que cercam o ano de 2017 atualmente são melhores do que aquelas presentes ao final de 2015, quando o país encontrava-se mergulhado em profunda crise política, fragilizando a capacidade de o governo buscar soluções de superação da crise econômica.

Alguns pontos permitem certo otimismo. Crescimento maior da economia americana, podendo resultar em desvalorização cambial, mantendo impulso positivo ao setor externo, e, por conseguinte, ao setor industrial. Avanços da agenda fiscal, ao lado de juros domésticos em queda, contribuindo para o aumento da confiança dos agentes, devem pavimentar o caminho para um maior dinamismo econômico em 2017. No entanto, há riscos que não devem ser ignorados. Incertezas no campo político, decorrentes das delações no âmbito da Lava Jato, limitando a capacidade de governança de executar reformas em um quadro de crise fiscal dos estados, podem gerar obstáculos e retardar a retomada da economia.

Redator: Newton Rosa

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